A Câmara de Cuiabá convocou nesta sexta-feira (9) os suplentes Gustavo Padilha (PSB) e Felipe Correa (PL) para assumirem os mandatos dos vereadores Sargento Joelson e Chico 2000, afastados por decisão judicial no âmbito da Operação Perfídia.
Os dois parlamentares são investigados por suposto recebimento de R$ 250 mil em propina para favorecer projetos de interesse da construtora HB 20, responsável pelas obras do Contorno Leste.
Parte dos pagamentos teria sido feita via Pix e outra parte em dinheiro vivo, inclusive com entregas realizadas dentro do gabinete de um dos vereadores.
Com o afastamento determinado pela juíza Edna Ederli Coutinho, por 180 dias ou até a conclusão das investigações, a Câmara só conseguiu dar início à substituição após receber o teor completo da decisão judicial. O acesso foi autorizado formalmente nesta sexta, permitindo o cumprimento do artigo 22 da Lei Orgânica do Município, que prevê convocação de suplentes em casos de afastamento superior a 30 dias.
Os suplentes devem tomar posse na próxima semana. A decisão judicial também determinou o bloqueio de bens dos envolvidos, sequestro de imóveis, entrega de passaportes e proibição de acesso à Câmara.
Além dos vereadores, a operação também tem como alvos um empresário, um intermediário financeiro e dois funcionários da construtora.
O vereador Chico 2000 também é alvo de uma representação por quebra de decoro parlamentar, já lida em plenário. A Procuradoria da Casa analisa o pedido, que pode resultar na abertura de uma Comissão Processante e, ao final, na cassação do mandato.
O esquema
Segundo a Delegacia Especializada de Combate à Corrupção (Deccor), os vereadores Sargento Joelson e Chico 2000 teriam solicitado R$ 250 mil em propina à empresa HB 20 Construções EIRELI em troca de apoio à tramitação e aprovação de um projeto de lei que autorizava o parcelamento de dívidas tributárias da Prefeitura de Cuiabá. A medida destravaria pagamentos pendentes à empreiteira, responsável pelas obras do Contorno Leste.
Parte da propina — R$ 150 mil — teria sido paga via Pix a um intermediário, identificado como José Márcio da Silva Cunha. Os outros R$ 100 mil teriam sido entregues em espécie diretamente ao vereador Sargento Joelson, inclusive com repasses realizados dentro do gabinete parlamentar.
Poucos dias após a aprovação do projeto, em 21 de setembro de 2023, a HB 20 recebeu R$ 4,8 milhões da Prefeitura, o maior repasse registrado no contrato até aquele momento. A Polícia Civil reuniu áudios, mensagens trocadas por WhatsApp e documentos bancários que, segundo os investigadores, confirmam a negociação de vantagens indevidas. As conversas foram cruzadas com as datas das sessões da Câmara e dos repasses públicos à empresa.
Além dos dois parlamentares, também são investigados Jean Martins e Silva Nunes, Glaudecir Duarte Preza e o intermediário financeiro José Márcio da Silva Cunha. Todos tiveram mandados de busca e apreensão cumpridos durante a Operação Perfídia.
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