Após mais de quatro décadas de confinamento em um espaço de concreto, a elefanta Kenya, a última da Argentina mantida em cativeiro, iniciou neste sábado (08.07) sua transferência para o Santuário de Elefantes Brasil, localizado em Chapada dos Guimarães. A viagem, que deve durar cerca de cinco dias, cobre aproximadamente 3.400 quilômetros e é realizada em ritmo controlado, de acordo com o bem-estar do animal.
Kenya viveu isolada durante anos no Ecoparque de Mendoza, antigo zoológico da cidade argentina, onde chegou ainda filhote, nos anos 1980. Ao longo de sua permanência, conviveu com a falta de estímulos naturais, chão duro, ausência de companheiras e sinais de sofrimento físico e emocional. Em momentos de frustração, era vista pressionando o corpo contra as paredes do recinto ou se recolhendo sozinha.
Com cerca de 45 anos, Kenya será a segunda elefanta africana a integrar a manada do santuário em Mato Grosso, que já abriga outros animais resgatados de cativeiros na América do Sul. Ela se juntará a Pupy, transferida da mesma cidade argentina em abril deste ano, com quem poderá estabelecer vínculos sociais importantes para sua recuperação.
A operação de transferência é conduzida pela equipe do Santuário de Elefantes Brasil, liderada por Scott Blais, cofundador da instituição. A caixa de transporte onde Kenya viaja possui monitoramento por câmera, permitindo observação constante do seu estado. A cada parada, a equipe fornece água, alimento e verifica seu conforto. Por ser um animal sensível, o processo de embarque exigiu paciência e dedicação dos tratadores, especialmente para garantir que ela se sentisse segura com o fechamento da estrutura.
“Como Pupy, ela demonstrou insegurança com a caixa no início. Mas, com calma e cuidado, conseguimos conquistar sua confiança”, afirmou a equipe em nota divulgada nas redes sociais do santuário, que tem compartilhado atualizações do trajeto com o público.
Sobre o Santuário
A ONG destaca que a chegada ao santuário representará uma mudança radical na vida da elefanta. No novo lar, ela encontrará ambiente natural, autonomia para decidir seus próprios ritmos e a possibilidade de interagir com outras elefantas. O contato com o solo macio, vegetação e água corrente é considerado essencial para sua recuperação física e emocional.
O Santuário de Elefantes Brasil foi criado para oferecer refúgio a animais vítimas de maus-tratos ou mantidos em condições inadequadas em cativeiro. O local abriga hoje elefantas da Ásia e da África, todas com histórico de exploração e isolamento. A transferência de Kenya faz parte de um esforço mais amplo de desativação de espaços de exibição animal e substituição por modelos de conservação mais éticos.
A chegada de Kenya ao santuário está prevista para os próximos dias. O público pode acompanhar a jornada pelo site da instituição.