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Conheça Antonio Amaro, o enfermeiro negro que marcou a história da saúde em MT – PNB Online

Conheça Antonio Amaro, o enfermeiro negro que marcou a história da saúde em MT (Foto: Reprodução)

Neste dia 12 de maio, em que se comemora o Dia Internacional da Enfermagem, o PNB Online homenageia Antonio Amaro Ferreira, personagem importante da saúde pública em Mato Grosso. Negro, enfermeiro e liderança silenciosa da Santa Casa de Misericórdia de Cuiabá ao longo do século XX, sua história foi por muito tempo relegada ao esquecimento, um destino comum a muitos profissionais negros que, apesar da relevância, foram apagados da historiografia oficial.

É o que conta a tese de doutorado defendida pelo enfermeiro Valdeci Silva Mendes em 2021, no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Com o título “Antonio Amaro Ferreira, negro enfermeiro no século XX em Cuiabá-MT: Contribuições para educação das relações étnico-raciais”, a pesquisa resgata a memória de Antonio Amaro e a inscreve nos debates sobre raça, educação e saúde.

“A escrita de sua história se fez necessária por permitir adentrar em questões sobre raça e racismo na sociedade brasileira”, justifica o autor na pesquisa. Nascido em 1897, em uma Cuiabá ainda marcada pelos resquícios da escravidão e pela exclusão sistemática da população negra dos espaços de formação profissional, Antonio Amaro é uma referência em práticas de saúde na Santa Casa, instituição fundada em 1816 e considerada pioneira no estado.

Segundo a pesquisa, ele atuou desde 1918 de forma ininterrupta por mais de 50 anos, tendo contribuído não apenas com o cuidado direto aos pacientes, mas também com a formação e orientação de médicos, enfermeiros e parteiras. Muitas vezes foi responsável pela manutenção do funcionamento do hospital em momentos de crise, o que lhe conferiu respeito e autoridade, mesmo sem ocupar cargos formais de poder.

“Eu fui para a Santa Casa e quem me levou foi doutor Epaminondas. Porque a mãe, a mãe do doutor Epaminondas, já falecida, era minha madrinha. Então achou que eu devia dedicar para Santa Casa, por causa do doutor Epaminondas, que ele era o médico de lá. E eu então, fui obrigado a obedecer a minha madrinha, que é a mãe dele. E fui pra lá, para a Santa Casa e até hoje estou”, contou Antonio em uma entrevista em 1981, retratada na pesquisa.

Em outro depoimento, Antonio relembra um episódio marcante durante um surto de varíola em Cuiabá, quando foi encarregado de cuidar de duas irmãs salesianas contaminadas. A doença, conhecida na época como “bexiga”, era altamente contagiosa. “A diretora delas pôs eu para cuidar das Irmãs”, contou Amaro. Segundo ele, a madre responsável proibiu que outras religiosas se aproximassem das infectadas, temendo o contágio, e delegou exclusivamente a ele os cuidados com as freiras doentes.

Para Valdeci Mendes, o episódio revela como o racismo se manifestava de forma sutil, porém funcional, nas instituições. “Mesmo em um espaço marcado pelo discurso da caridade, o cuidado era delegado aos corpos negros quando o risco era alto”, analisa. A decisão de expor Antonio ao perigo, enquanto preservava as demais religiosas, é descrita como reflexo das desigualdades raciais naturalizadas nos ambientes de trabalho da época.

Uma contribuição silenciada

Valdeci Mendes explica que o reconhecimento de Antonio vinha pelo saber prático, pela experiência e pela confiança da comunidade que era assistida por ele. Ainda assim, sua contribuição foi silenciada na história oficial da instituição. Conforme o texto, ele dominava técnicas de enfermagem em um tempo em que o acesso de negros ao ensino formal era restrito, e que, apesar disso, seu conhecimento era considerado indispensável.

O método da micro-história, aliado à história oral, permitiu à pesquisa reconstruir uma narrativa com base em depoimentos de ex-colegas, médicos, pacientes e moradores de Cuiabá. A tese mostra o retrato de um profissional respeitado, ético e incansável, cuja presença foi fundamental para o funcionamento da Santa Casa e, ao mesmo tempo, estrategicamente invisibilizada.

Antonio Amaro representa, como defende Valdeci, o “direito à justa visibilidade”, tanto na história da enfermagem quanto na luta por uma educação antirracista. A sua invisibilização é retratada na tese como sintoma das estruturas funcionais do racismo, que impuseram limites à formação, à ascensão e ao reconhecimento de profissionais negros no país. “Antonio Amaro Ferreira, pela época e pelo tempo de trabalho se converteu num dos pioneiros na história da enfermagem em Mato Grosso”, afirma o pesquisador.

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