Na indústria da moda, onde os estilos são cíclicos e as mesmas tendências são repetidamente apresentadas em feeds do TikTok e Instagram, criar um visual único e identificável não é tarefa fácil. No entanto, foi isso que a estilista dinamarquesa Cecilie Bahnsen conseguiu, com mangas bufantes, detalhes de amarração, babados de organza e jacquard texturizado entre as assinaturas visuais da marca homônima que fundou em 2015.
Para Bahnsen, desenvolver essa estética tem sido um processo orgânico — que se baseia em sua herança escandinava (ela nasceu e foi criada na Dinamarca, nos arredores de Copenhague). Embora posteriormente tenha trabalhado com estilistas como Erdem Moralıoğlu em Londres e John Galliano em Paris, crescer longe das capitais tradicionais da moda permitiu que Bahnsen “realmente encontrasse sua voz e criatividade”, disse a estilista de 41 anos durante uma videochamada de seu estúdio em Copenhague.
O design dinamarquês tradicionalmente enfatiza mais a funcionalidade e o conforto, em vez de ser justo ao corpo ou sobrecarregado. Essas características podem ser vistas no trabalho de Bahnsen, que é fantasioso, mas vestível, marcando um distanciamento das antigas ideias de feminilidade onde as roupas precisavam ser justas e curtas (e consequentemente desconfortáveis).
“O ponto de partida foi criar algo em que você pudesse se movimentar, mas também algo fácil, que você pudesse simplesmente vestir — numa segunda-feira”, explicou Bahnsen. Essa abordagem, e o uso liberal da cor branca, também tornou a marca uma favorita entre noivas que procuram algo fashion, mas não convencional para usar em casamentos.
De fato, Bahnsen há muito tempo expressa o desejo de que seus designs sejam usados no dia a dia, em vez de serem guardados apenas para ocasiões especiais. Para alguns, pode parecer um grande pedido, considerando que as roupas vêm com um preço elevado — um vestido longo com mangas volumosas e costas abertas custa £ 3.378 (cerca de R$ 24.600).
Ali Fitzgerald, gerente de compras do site de luxo Net-a-Porter, disse que a marca continua atraindo clientes “que se identificam com um estilo avant-garde, mas feminino, que valorizam o artesanato e designs únicos”.
O varejista trabalha com a marca Cecilie Bahnsen desde 2018, “quando as marcas baseadas em Copenhague estavam ganhando popularidade no mercado de luxo”, lembrou Fitzgerald. Hoje, em meio ao renovado interesse pela moda maximalista, Cecilie Bahnsen continua sendo “um destaque nesse movimento e uma favorita absoluta entre o grupo fashion”, observou.
Entre as fãs famosas estão a modelo e atriz Emily Ratajkowski de “Too Much” e a cantora Jennie do Blackpink.
O que as noivas querem
Entre uma das peças mais reconhecíveis de Bahnsen está sua versão do vestido babydoll — quando você vê uma peça assim nas araras de uma loja de alto padrão como a Dover Street Market em Tóquio ou a Nordstrom em Nova York, é frequentemente, sem dúvida, uma das criações de Bahnsen.
No entanto, a peça tem raízes profundamente políticas: o babydoll é sinônimo de libertação feminina, pois marcou uma mudança em relação aos espartilhos e comprimentos restritivos no início do século 20 — uma época que marcou maior liberdade pessoal para as mulheres, particularmente em termos de movimento físico e expressão social.
Essa história, ao que parece, alinha-se com as crenças de Bahnsen. Ela descreveu suas roupas como “hiperfemininas”, mas observou que também fazem com que quem as veste se sinta “forte” ao mesmo tempo.
A primeira coleção dedicada a noivas de Bahnsen — uma seleção curada de estilos novos e antigos, que incluía vários vestidos babydoll — foi lançada no início de 2024. Ela identificou uma oportunidade em casamentos depois de ver mulheres “nos procurando com catálogos salvos de fotos antigas dos nossos vestidos brancos”, ela lembrou. “Eu sempre tenho muito branco em minhas coleções, então foi algo muito natural”.
Hoje, a marca tornou-se uma escolha popular para roupas de noiva, ao lado de marcas estabelecidas como Vivienne Westwood e Vera Wang, e novos concorrentes como Simone Rocha e Molly Goddard.
A maior mudança no vestuário de noivas, observou Bahnsen, é a crescente demanda de suas clientes por “peças separadas” que também possam ser usadas fora do grande dia. “Começou há cerca de cinco anos, quando as pessoas começaram a comprar looks que também pudessem usar depois do casamento e ter um segundo propósito”. Além de vestidos, as coleções de noiva de Bahnsen incluem saias fluidas e bralettes.
Uma voz independente
Para marcar uma década no negócio, Bahnsen planeja abrir sua primeira boutique em Copenhague e realizar um desfile como parte da semana de moda da cidade em agosto
Nos últimos anos, ela se tornou presença constante na Semana de Moda de Paris e ainda planeja desfilar lá no outono.
A nova boutique, localizada na Store Strandstræde 19, no centro da cidade, é “o primeiro espaço a ter nosso universo completo e exibir a coleção inteira de roupas”, disse Bahnsen. A loja, ela observou, terá “um ambiente de galeria”, indicando sua expectativa de que não será apenas um local para transações que apresenta novos produtos à venda, mas também apresentará aos fãs — e potenciais clientes — seus outros interesses, como a descoberta de arte e artesanato de artesãos locais, que estarão em exposição.
Para Mie Marie Ejdrup, CEO da Cecilie Bahnsen, a nova loja faz parte de uma “estratégia mais ampla de crescimento”, explicou em comunicado. Enquanto Copenhague foi selecionada como “uma homenagem ao nosso mercado local e herança, a visão de longo prazo é expandir dentro de nossos principais mercados internacionais”, disse ela.
Enquanto isso, o desfile de Bahnsen em Copenhague funcionará como uma celebração única que olha para os últimos dez anos da marca.
“Decidimos criar uma coleção totalmente branca que se transforma em prateado. Apresentará muitas das silhuetas ou tecidos mostrados anteriormente, alguns combinados de novas maneiras”, ela provocou, descrevendo o resultado como “uma colagem de tudo que já criamos”. Os convidados que comparecerem ao desfile também são convidados a usar suas peças favoritas da Cecilie Bahnsen, acrescentou.
O fato de a marca permanecer com propriedade independente é significativo. O clima econômico atual, o crescimento do fast fashion e o cenário varejista em transformação têm criado um ambiente difícil para a sobrevivência e crescimento de muitas marcas de moda.
No entanto, a abordagem astuta de Bahnsen em relação às colaborações tem ajudado a impulsionar sua linha financeira. Embora as colaborações da indústria há muito sejam usadas para ampliar públicos e criar burburinho, seu talento para escolher os parceiros certos tem consistentemente levado ao sucesso comercial e criativo. A estilista revelou à CNN que fará uma parceria com a Alpha Industries, uma especialista americana em jaquetas bomber e roupas de estilo militar.
“Quando adicionamos uma colaboração ao nosso universo, geralmente é porque vi uma amiga ou alguém no estúdio usando algo interessante”, explicou Bahnsen. A ideia de trabalhar com a Alpha Industries surgiu depois que ela viu “muitas garotas, especialmente no Japão, estilizando jaquetas bomber sobre vestidos”. Bahnsen sentiu que poderia dar um toque mais suave a uma marca que normalmente passa uma impressão mais dura. Por exemplo, a silhueta característica MA-1 é cropped e retrabalhada com camadas de tecido cortado a laser que parecem florescer para fora, enquanto os estilos N-2B, que normalmente apresentam cores militares como verde-escuro, virão com detalhes em rosa-claro.
Com lançamento previsto para janeiro de 2026, isso segue a popularidade das colaborações de Bahnsen com a empresa japonesa de artigos esportivos Asics e a empresa americana de roupas outdoor The North Face. Quando sua colaboração com a Asics foi lançada pela primeira vez em 2023, “tudo se esgotou em menos de dois minutos”, disse ela. “É novo ter vozes femininas no campo do sportswear, então entrar na Asics e na The North Face e adicionar uma lente feminina, eu acho que é o que tornou isso tão forte”.
Esse pensamento é possivelmente emblemático do sucesso de Bahnsen até hoje.
“Como uma fundadora criativa e independente, você tem que crescer com o negócio e aprender a fazer parte de uma indústria da moda maior que você mesma. Então, você precisa se cercar de pessoas que possam complementar suas habilidades e fazer você crescer”, refletiu Bahnsen. “Mas o que também aprendi é que você precisa seguir seus instintos e manter suas crenças, porque isso é o que vai fazer você se destacar”.
