Seja Bem Vindo - 12/07/2025 00:26

  • Home
  • Geral
  • Fenômeno bebê reborn seria psicose coletiva?

Fenômeno bebê reborn seria psicose coletiva?

O debate sobre os bebês reborn tem inflamado opiniões e polarizado visões. Há quem os veja como um recurso terapêutico legítimo, um direito à expressão lúdica, e há quem os considere um sintoma de desequilíbrio coletivo, um surto psicótico compartilhado. O que, afinal, revela esse julgamento? Estaríamos, sem perceber, perpetuando estereótipos sobre a loucura e, ao mesmo tempo, desautorizando a experiência daqueles que optam por bebês reborn?

A construção do louco como irracional

Associar o uso de bebês reborn à psicose coletiva remete à antiga representação do louco como um ser privado da razão. A expressão é usada sem uma definição clara, aproveitando-se de um imaginário popular que relaciona a loucura à insanidade, ao descontrole, à desordem privada de qualquer lógica e à subversão das normas. Michel Foucault, em História da Loucura, aponta como ao longo da história a loucura foi vista como oposição à estabilidade racional, sendo considerada um caos que deveria ser contido. Para o filósofo francês, a loucura era vista como a “manifestação no homem de um elemento obscuro e aquático, sombia desordem, caos movediço, germe e morte de todas as coisas, que se opõe à estabilidade luminosa e adulta do espírito”.

Ao utilizar esse conceito de forma pejorativa, o argumento contra os bebês reborn reforça uma concepção ultrapassada da loucura e desconsidera sua complexidade clínica. No campo da Psicanálise e da Psiquiatria, a psicose é entendida como uma posição subjetiva, uma forma específica de sofrimento psíquico ou de doença mental e não meramente como um estado de irracionalidade. Atribuir comportamentos incomuns à loucura, sem critério clínico, apenas contribui para a estigmatização de quem realmente vive com transtornos psicóticos e seus familiares e cuidadores.

A desautorização dos pais e mães de bebês reborn como loucos

Rotular o fenômeno dos bebês reborn como uma patologia coletiva também funciona como um mecanismo de desautorização dos que preferem esse tipo de paternidade e maternidade, ridicularizando-os e afastando-os do reconhecimento social. O debate, do meu ponto de vista, não deve girar em torno de gostar ou não da prática. Uma sociedade democrática deve permitir o questionamento, é certo, mas os argumentos precisam ser construídos sem ofensas e sem reforçar exclusões históricas.

Em última instância, o que essa polêmica revela é o quanto ainda precisamos refletir sobre como julgamos o outro. Em vez de patologizar e excluir, talvez fosse mais produtivo buscar qualificar o debate. E não, não se trata de um surto psicótico coletivo. O tempo mostrará toda a complexidade do que, afinal, se trata o fenômeno dos bebês reborn.

Francisco Neto Pereira Pinto é professor universitário, escritor e psicanalista. Doutor em Letras. Autor do livro infantil Você vai ganhar um irmãozinho. 

Fotográfo Raillander

* A opinião do articulista não reflete necessariamente a opinião do PNB Online

Clique aqui para acessar a Fonte da Notícia

VEJA MAIS

Corpo de Bombeiros socorre motociclista ferida após colisão com carro em rotatória

O Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso (CBMMT) atendeu, nesta quarta-feira (9.7), uma ocorrência…

Aberta seleção para professores da educação infantil com bolsa de R$ 1,2 mil

Publicação extra do Diogrande (Diário Oficial de Campo Grande) desta terça-feira (8) trouxe abertura de…

Governo transfere área de 4 mil hectares para famílias assentadas em MS

Uma área rural com mais de 4 mil hectares foi oficialmente transferida para o Incra…