A desigualdade racial presente no Brasil desde a colonização também se reflete nas salas de aula dos cursos superiores.
Dados do Censo Demográfico 2022, divulgados nesta semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam um cenário preocupante: apenas 3,7% dos formados em medicina em Mato Grosso são negros, enquanto 62,2% são brancos, 30,8% pardos e apenas 0,4% indígenas.
Para o presidente do Conselho de Políticas Afirmativas da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Vinicius Brasilino, esses números evidenciam um Brasil que ainda convive com profundos abismos sociais e raciais, especialmente no acesso ao ensino superior.
— Existe desigualdade social e racial no Brasil, que se perpetua no ensino superior. Com as políticas de ações afirmativas, já avançamos na democratização do acesso, garantindo vagas para negros, indígenas, quilombolas e outros grupos historicamente excluídos. No entanto, ainda há desafios em cursos mais elitizados, onde a ocupação das vagas pela população de baixa renda enfrenta barreiras — explica Brasilino.
Segundo ele, na UFMT, cerca de 70% dos estudantes são de baixa renda, o que demonstra a importância das políticas afirmativas. Contudo, em cursos tradicionalmente dominados por grupos privilegiados, a diversidade racial ainda caminha a passos lentos.
Áreas mais elitizadas ainda são majoritariamente brancas
Os dados do IBGE reforçam que a disparidade racial varia entre os cursos superiores. Odontologia, por exemplo, é a graduação com maior predominância de pessoas brancas em Mato Grosso: 68,1% dos profissionais formados pertencem a esse grupo.
Já entre os professores formados sem área específica, a distribuição racial é diferente: 37,4% são brancos, 51,3% pardos e 10,1% negros, um reflexo de cursos que, historicamente, têm maior presença de estudantes de baixa renda e oriundos de escolas públicas.
O IBGE destaca que a distribuição da população com nível superior completo por cor ou raça varia bastante de acordo com a área do curso concluído, indicando que a equidade racial no ensino superior ainda está longe de ser uma realidade em todas as profissões.
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