Seja Bem Vindo - 22/10/2025 12:39

No limite, contas viram o maior desafio da safra em Mato Grosso

No coração do agro brasileiro, o produtor mato-grossense enfrenta uma das safras mais desafiadoras dos últimos anos. Com crédito escasso, juros elevados e custos que não param de crescer, o ritmo do campo desacelera. Para não parar, os agricultores reduzem investimentos e seguram o caixa em meio à incerteza. Uma safra que começa com fé — e com o agro no limite.

As plantadeiras estão prontas para entrar nas lavouras na maioria das propriedades rurais em Primavera do Leste. O que as impedem é a irregularidade das chuvas no município. “Teria que chover uns 80 milímetros”, diz o agricultor Ari José Ferrari ao Patrulheiro Agro.

Com todas as plantadeiras engatadas esperando o índice pluviométrico ideal, Ari relata ainda outro ponto preocupante: a alta temperatura. “Não dá para arriscar, não. Tem que esperar, porque o lucro é pequeno. Foi feito um pouco de contrato. Achamos que fosse subir um pouco e fazer mais [contratos], só que não subiu até agora”, pontua ele que pretende cultivar 2,4 mil hectares de soja e já comercializou 30% da produção.

Preço baixo da soja e crédito restrito

O preço baixo da saca de 60 quilos da soja, bem como do milho, é considerado outro problema preocupante para a safra 2025/26, além do clima. Quando adquiriu o maquinário mostrado na reportagem do Canal Rural Mato Grosso, Ari lembra que a soja era comercializada a R$ 160 a saca e hoje a comercializa por R$ 110. Já o milho caiu de R$ 80 para R$ 45.

“Então dá uma diferença. A nossa média é colher 60 sacas por hectare [de soja], mas não pode acontecer nada de errado. Qualquer pouco que der a menos a gente já entra no vermelho. Está bem no limite”, relata o agricultor.

Foto: Pedro Silvestre/Canal Rural Mato Grosso

Para o tesoureiro do Conselho Estadual das Associações das Revendas de Produtos Agropecuários (Cearpa), Marcelo Cunha, o crédito é o “nosso maior problema” para a safra 2025/26.

“Ficou restrito. O dinheiro sumiu, vamos dizer, coisa que a agricultura nunca tinha visto disso, essa escassez de crédito, o produtor pegar dinheiro em banco, em cooperativa, isso ficou difícil”.

O Cearpa reúne cerca de 300 empresas em todo o Mato Grosso e, segundo Marcelo, para as indústrias e revendas tais recursos também estão escassos. “Está estrangulando o crédito e pendeu a balança para a indústria e para as revendas, é limitado esse crédito que nós temos”.

Juros altos impedem investimentos

A falta de crédito é considerada um “assunto sério” em meio ao setor produtivo brasileiro, somada às altas taxas de juros. Conforme o agricultor mato-grossense Rui Prado, “é impossível fazer investimentos” com os juros praticados hoje pelos bancos, que chegam até 20%.

“Para o produtor plantar isso é inviável. O que vai acontecer em um futuro muito próximo é que os bancos vão ficar proprietários das terras dos produtores rurais aqui em Mato Grosso. O dinheiro da produção está sendo canalizado, principalmente da produção agrícola para o sistema financeiro”, frisa a reportagem.

A redução de investimentos, de acordo com Rui Prado, é uma saída para evitar que as terras parem “nas mãos dos bancos”. “Eu não sei o que vai virar do nosso país. Eu acredito que os bancos vão começar a fazer agricultura em nosso país. Da maneira que está, eu aconselho aos meus colegas produtores a não plantarem na forma em que estão plantando. Plantar com menos tecnologia, menos área e fazer com que sobre alguma coisa, porque da maneira que está é muito provável que as terras vão parar nas mãos dos bancos”.

Produtor na região sudeste de Mato Grosso, Jorge Piccinin revela que o último maquinário adquirido foi há três anos. De lá para cá não investiu mais, pois “hoje a taxa de juro não está dando condições”. “Tem que fazer com o que tem para sobrar alguma coisa, senão não sobra nada”, diz ele que pretende cultivar 5,3 mil hectares de soja nesta safra.

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Foto: Pedro Silvestre/Canal Rural Mato Grosso

Apesar da cautela nos investimentos hoje no que tange a maquinários, diante das margens apertadas, a depreciação destes com o passar dos anos causa apreensão quanto ao futuro, uma vez que são considerados essenciais para os resultados na lavoura.

“Vai ter que trocar as máquinas, porque daqui a pouco vai virar coisa velha que não dá mais para plantar. Mas, hoje eu não tenho coragem de comprar uma máquina não, porque dinheiro para comprar à vista não tem e financiado não dá. Juro de 20% não fecha a conta”, pontua o agricultor Ari Ferrari.

Para o presidente da Cooprosoja, Fernando Cadore, a “viabilidade” é o principal insumo para a produção. Ele frisa que “o investimento tem que ser bem pensado para que tenha viabilidade” e que o mesmo deve ser feito somente em caso de “extrema necessidade”.

De acordo com ele, a realização de compras coletivas seria uma alternativa para o produtor se equilibrar e ficar dentro do mercado com investimento. Com mais de 1,3 mil produtores e quase três milhões de hectares, a Cooprosoja foi criada há dois anos e está presente em 86 municípios mato-grossenses.

“A coletividade, a união dos produtores, pode fazer a diferença e trazer viabilidade a longo prazo. Máquinas agrícolas era um ponto em que não existia coletividade. O Grito do Ipiranga formatou muitos conglomerados de compras, como as cooperativas municipais. Mas, as máquinas eram um calcanhar e ainda é, porque a discrepância continua muito grande. Todo o setor junto em volume vai ter diferença de precificação, é isso o que a gente buscou na formatação dessa cooperativa, que une os produtores mato-grossenses em coletividade para benefícios em comum”.

+Confira todos os episódios da série Patrulheiro Agro


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