Imagine a energia como a força vital do mundo, o combustível que move tudo, de carros a indústrias. Por décadas, essa força veio de uma fonte “suja”, o hidrogênio cinza, que para ser produzido usava combustíveis fósseis e liberava poluição no ar, como uma fumaça de chaminé.
Fumaça da queima de combustíveis fósseis. (Foto: Reprodução)
Agora, estamos descobrindo uma nova forma de gerar essa energia, uma versão “verde” e limpa, o hidrogênio verde. Ele é como a brisa fresca de uma manhã na floresta, produzido a partir de recursos renováveis, como a luz do sol, o vento e, especialmente em Mato Grosso, o que a terra produz.
“O estado de Mato Grosso é referência nacional na produção agrícola e conta com um parque agroindustrial altamente desenvolvido. Essas atividades geram grandes volumes de resíduos que podem se tornar matérias-primas valiosas para a produção de hidrogênio verde”, explica a Drª Laiane Alves de Andrade, pesquisadora do Centro de Pesquisa em Bioenergia da UFMT.
Cadeia de hidrogênio verde. (Foto: Reprodução)
Essa abordagem não apenas valoriza a cadeia produtiva rural, mas também reduz a pressão sobre os recursos naturais e o descarte inadequado, alinhando a produção de energia com a sustentabilidade ambiental.
Investimentos e parcerias estratégicas no Brasil
O desenvolvimento do hidrogênio verde não é uma iniciativa isolada, mas sim o resultado de um esforço conjunto entre o setor público, privado e a academia.
O hidrogênio verde contribui para a diminuição do uso de combustíveis fósseis. (Foto: Reprodução)
No Brasil, iniciativas-piloto já estão em andamento, como a planta de hidrogênio verde da Eletrobras Furnas em Itumbiara (GO), que utiliza energia solar para a eletrólise. Essa demonstração prática, mesmo que em pequena escala, aponta para a viabilidade e o interesse do setor energético.
No âmbito público, o apoio de agências de fomento nacionais e internacionais tem sido crucial. A Alemanha, por exemplo, tem investido significativamente em pesquisas no Brasil para garantir seu futuro energético e reduzir a dependência do gás natural russo.
Em Mato Grosso, a pesquisa da UFMT, financiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Tecnológico (CNPq) através do edital Pró Amazônia, visa explorar rotas tecnológicas a partir de biomassa, mostrando um alinhamento estratégico com a vocação agrícola e ambiental do estado.
“Nosso foco é estudar a integração entre fermentação e eletrólise microbiana, utilizando micro-organismos com potencial para melhorar a eficiência da produção de hidrogênio verde a partir de resíduos”, destaca o Drº Júlio Cesar Carvalho de Miranda, docente da Faculdade de Engenharia da UFMT.
Fermentação & eletrólise microbiana ⚛️🧪
Produção de hidrogênio verde a partir de resíduos ♻️💧
🔬Nosso Foco: A Sinergia Biológica
O trabalho se concentra na integração entre a fermentação 🍎 e a eletrólise microbiana ⚡️. Usamos micro-organismos 🦠 que têm um potencial incrível para aumentar a eficiência da produção de hidrogênio verde 💚. Essa produção é feita a partir de resíduos, transformando lixo em energia limpa! ✨
🔍O Processo em Detalhes
Tudo começa com a fermentação, onde os micro-organismos quebram 💥 os resíduos orgânicos. Em seguida, os produtos dessa quebra são usados na eletrólise microbiana, onde geramos o hidrogênio. É um ciclo virtuoso! 🔄
Principais Etapas: 👣
Fermentação: Decomposição dos resíduos. ➡️
Eletrólise Microbiana: Produção de hidrogênio. 🔋
Integração: Otimização e aumento da eficiência. 📈
Potencial de geração de empregos e inclusão social
Um dos impactos mais promissores da produção de hidrogênio verde é a sua capacidade de gerar empregos e promover a inclusão social.
Nas rotas baseadas em biomassa, a necessidade de mão de obra não se limita apenas a engenheiros e técnicos especializados para a operação das plantas, mas se estende por toda a cadeia produtiva. Isso inclui produtores rurais de pequeno a grande porte, fornecedores de resíduos e profissionais de logística e beneficiamento.
Esse modelo, que valoriza resíduos agroindustriais e de cadeias agroextrativistas, beneficia diretamente comunidades rurais, indígenas e quilombolas. O que antes era considerado lixo ou subproduto de baixo valor, agora se torna um insumo de relevância econômica.
“A valorização dos resíduos de biomassa possui grande potencial para agregar valor às cadeias agroextrativistas, especialmente para produtores de menor porte, comunidades indígenas e quilombolas”, pontua o Drº Júlio Cesar Carvalho de Miranda.
Colniza e Aripuanã lideram o extrativismo em Mato Grosso. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Essa dinâmica não apenas diversifica a renda dessas comunidades, mas também fortalece a bioeconomia, um conceito que integra a produção de energia, alimentos e outros produtos a partir de recursos biológicos renováveis.
A produção de hidrogênio verde, portanto, tem o potencial de reduzir desigualdades regionais, impulsionando o desenvolvimento em áreas rurais e menos desenvolvidas do estado.
Desafios e oportunidades tecnológicas e de mercado
Apesar do grande potencial, a produção de hidrogênio verde ainda enfrenta desafios tecnológicos e econômicos para se tornar competitiva em relação aos combustíveis fósseis.
O uso de combustíveis fósseis aumenta o número de rejeitos dispersados no meio ambiente. (Foto: Reprodução)
Um dos principais obstáculos é a necessidade de aumentar a eficiência produtiva das rotas tecnológicas, que muitas vezes geram o hidrogênio misturado com outros gases, exigindo etapas adicionais de purificação que elevam os custos e a complexidade do processo.
“Entre os principais desafios está a necessidade de aumentar a eficiência produtiva”, ressalta o Drº Júlio Cesar Carvalho de Miranda.
Para que a tecnologia se torne viável, é fundamental o apoio de políticas públicas de incentivo, especialmente nas fases iniciais. Além disso, a falta de infraestrutura específica para o transporte e armazenamento do hidrogênio, que é um gás altamente inflamável, é um fator limitante.
Por isso, a exportação do hidrogênio verde tende a ser feita na forma de derivados, como amônia, metanol e Combustível Sustentável de Aviação (SAF). A Alemanha, por exemplo, tem liderado iniciativas como o leilão da política H2Global, buscando contratos de longo prazo para fornecimento desses derivados, o que demonstra o interesse crescente e a viabilidade do mercado internacional.
Hidrogênio verde numa usina da Alemanha (Foto: divulgação)