A jornalista Rosimeire Domingues dos Reis defende no próximo dia 30 de outubro, às 14h30 (horário de Cuiabá), a dissertação “Comunicação e cultura: franjas da reverberação da campanha ‘Agro é tech, agro é pop, agro é tudo’ no TikTok”, pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Poder (PPGCOM) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT).
Orientada pelo professor Pedro Pinto de Oliveira, com coorientação do professor Ricardo Morais, da Universidade do Porto (Portugal), a pesquisa analisa como a campanha televisiva que exaltou o agronegócio brasileiro se expandiu para o ambiente digital, sendo ressignificada no TikTok.
“Percebi que o TikTok era um campo riquíssimo, onde a campanha ganhava novas formas e novos sentidos. Essa virada mudou tudo: o objeto, o corpus e a própria perspectiva da pesquisa”, afirma Rose. Segundo ela, a plataforma se tornou um “espaço de disputa simbólica e de construção de imaginários sobre o agronegócio”.
A campanha, veiculada de 2016 a 2020 pela Rede Globo, é considerada pela pesquisadora um marco na forma como o setor se apresenta à sociedade. “Antes, o agro era visto como um setor ligado ao atraso, à concentração de terras e aos conflitos. A partir dessa campanha, ele passa a ser associado à tecnologia, à juventude, à eficiência e ao orgulho nacional”, explica.
Para Rose, esse movimento não se limita à publicidade. “A transformação é simbólica e política. A campanha cria um novo imaginário sobre o Brasil rural, substituindo figuras antigas, como o ‘Jeca Tatu’, por personagens modernos e produtivos. Ao exaltar um único modelo de ruralidade, ela apaga as múltiplas vozes que também compõem o Brasil rural”.
A pesquisadora utiliza o conceito de “franjas da reverberação” para analisar como a mensagem original da campanha se prolonga nas redes. “Essas franjas são as bordas do acontecimento, o que acontece depois que uma mensagem circula e começa a ser apropriada pelas pessoas”, explica.
Rose analisou 40 vídeos do TikTok com as hashtags #agroépop, #agroétech e #agroétudo. “A maioria dos vídeos apresenta o agro como espetáculo: há uma glamourização do campo, com máquinas brilhando ao som de trilhas pop, e uma romantização da vida rural associada à pureza, força e religiosidade”.
Segundo ela, esses conteúdos constroem o perfil do “agro self-made man”, o sujeito que vence por mérito e trabalho, “sem mostrar as relações coletivas ou os conflitos por trás dessa narrativa”. Mais de 90% dos vídeos reforçam a visão positiva do agronegócio, enquanto apenas 2,5% trazem críticas. “Isso mostra o quanto o TikTok ajuda a consolidar uma hegemonia simbólica, transformando o agro em um espetáculo de poder e identidade nacional”, avalia.
A dissertação aponta que a comunicação do agronegócio ultrapassa a televisão e se prolonga nas redes, onde é apropriada pelos usuários e ganha novas camadas de sentido. “Ao observar o TikTok, procurei entender como as plataformas digitais participam da construção da hegemonia, mas também como podem abrir brechas para outros modos de existir e comunicar”, diz.
Rose afirma que sua pesquisa revela as contradições entre a narrativa de abundância do agronegócio e a realidade brasileira. “Enquanto o agro se apresenta como ‘tudo’, milhões de brasileiros ainda lutam pelo básico. Essa é a contradição mais brutal: o espetáculo de prosperidade diante da fome e da pobreza.”
O orientador Pedro Pinto de Oliveira destaca a relevância do trabalho e trabalho de colaboração que a pesquisa envolveu. “Eu quero agradecer ao trabalho da banca na qualificação e ao coorientador, o professor Ricardo Morais, da Universidade do Porto/Portugal, um especialista em TikTok, que contribuíram para potencializar esta pesquisa do PPGCOM. A pesquisa levada a cabo pela mestranda Rose Domingues é um estudo referencial na apreensão da noção de ‘franjas da reverberação’, aplicada como base metodológica”, destacou o professor doutor em Comunicação.