O filósofo e professor da Universidade Yale Jason Stanley anunciou que vai deixar os Estados Unidos por temer o avanço do autoritarismo no país. Em entrevista ao serviço em espanhol da BBC News, Stanley afirmou que os EUA já vivem sob um “regime fascista” e criticou duramente a repressão a universidades e a supressão de liberdades civis no governo de Donald Trump.
Conhecido internacionalmente por seus estudos sobre o fascismo, tema do livro Como Funciona o Fascismo, traduzido para mais de 20 idiomas, Stanley vai se mudar para o Canadá, onde passará a lecionar na Universidade de Toronto. A decisão foi motivada, segundo ele, pelo “clima político insustentável” e pela ameaça que vê à integridade de seus filhos, negros e judeus.
“Estamos sendo usados como ferramenta para atacar instituições democráticas. Isso só aumenta o antissemitismo”, afirmou. “A identidade dos meus filhos está sendo apagada.” Outros dois professores de Yale, os historiadores Timothy Snyder e Marci Shore, também anunciaram a mudança para o Canadá.
Stanley aponta a Universidade Columbia, em Nova York, como exemplo do que considera uma escalada autoritária. A instituição teria cedido à pressão do governo federal, alinhado a Trump, ao intervir em departamentos acadêmicos por razões ideológicas. “É o pior ataque à liberdade de expressão da minha vida, pior que o Macartismo”, disse na entrevista.
O professor se refere à decisão de Columbia de forçar a aposentadoria de docentes críticos a Israel durante os protestos universitários contra a guerra em Gaza. Para ele, houve censura política com base em uma leitura distorcida de antissemitismo, que acabou silenciando judeus progressistas.
“Fizeram distinção entre judeus bons, os que apoiam as ações de Israel, e judeus maus, os que protestavam. Isso é antissemita”, afirmou. Stanley critica o uso do antissemitismo como arma política, principalmente contra a esquerda, e denuncia que professores e alunos estão sendo perseguidos por manifestar opiniões divergentes. “Estão prendendo estudantes nas ruas por escrever artigos de opinião”, disse.
Trump como ditador
Para o filósofo, os Estados Unidos já perderam os pilares básicos do Estado de direito. “O presidente e Elon Musk estão fazendo o que querem. Os tribunais são um desastre. Não somos a Alemanha nazista, mas estamos a caminho de algo muito ruim”, disse.
Stanley afirma que o Partido Republicano, sob liderança de Trump, atua como um sistema de partido único e ameaça dissolver instituições caso não haja alinhamento. “Trump disse que é rei, que é autoridade absoluta. E seu partido vota 100% com ele”, afirmou.
A falta de reação institucional à radicalização do discurso e das práticas políticas do ex-presidente também preocupa. “As instituições devem dizer: ‘Você não é um ditador’. Mas isso não está acontecendo.”
A entrevista completa com Jason Stanley foi publicada pela BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC e pode ser conferida neste link.
