O superendividamento não é uma simples estatística; é uma crise humanitária que consome silenciosamente a base do serviço público em Mato Grosso. A recente audiência na Assembleia Legislativa, que debateu a destinação de R$ 200 milhões do Fundo MTPrev para a reestruturação dessas dívidas, acendeu uma luz de esperança.
Os números são alarmantes, cerca de 60 mil servidores estaduais, incluindo muitos de nossa categoria, estão com dívidas que ultrapassam a marca de R$ 1 bilhão. A falha na compreensão do sistema fez com que o limite individual de 35% se transformasse em descontos totais que podem chegar a 70% da renda, quando somados múltiplos empréstimos e outros produtos. Esta não é uma questão de má gestão financeira individual, mas de uma armadilha predatória que se aproveitou da boa-fé dos trabalhadores.
Para o policial penal, o peso dessa dívida vai além do bolso. Ele carrega esse fardo dentro das unidades prisionais, onde o estresse já é uma constante. O endividamento severo é um combustível para a ansiedade, a depressão e, nos casos mais extremos, pode até tirar vidas. Já acompanhamos colegas cuja saúde mental foi gravemente afetada por essa situação. Defender nossa categoria significa lutar não apenas por melhores condições de trabalho, mas pela integridade física e mental de cada um.
Diante desse cenário, a proposta de usar recursos do MTPrev é uma medida ousada e necessária. No entanto, o SINDSPPEN, que tem acompanhado de perto os debates, defende que qualquer solução deve ser construída sobre dois pilares indissociáveis: o resgate imediato do servidor e a proteção do futuro do fundo previdenciário.
Não podemos permitir que a tábua de salvação de hoje se transforme no naufrágio de amanhã. O uso dos recursos deve ser lastreado por um estudo técnico minucioso, garantindo que a reestruturação das dívidas seja feita de forma sustentável, com prazos e juros que realmente aliviem o orçamento familiar, sem comprometer a estabilidade financeira do regime de previdência a longo prazo. A transparência no processo não é negociável.
A ação do poder público é fundamental, mas deve ser parte de uma estratégia permanente de educação financeira e regulação mais rígida sobre as práticas de concessão de crédito. A vida e a dignidade dos servidores de Mato Grosso não têm preço. É hora de agir com coragem, responsabilidade e um profundo senso de humanidade.
Lucivaldo Vieira de Sousa é secretário Geral do Sindicato dos Policiais Penais do Estado de Mato Grosso (Sindsppen-MT)
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