Seja Bem Vindo - 26/06/2025 12:33

Robin Hood às avessas

Imagine a reação de um profissional, de qualquer área, com salário mensal de R$ 7 mil, ao constatar no holerite ou no recibo de pagamento, um desconto, de mais de mil reais, referente ao Imposto de Renda Retido na Fonte. Não é nada agradável. Piora ainda mais, quando ele percebe que, no final do ano, são mais de 12 mil reais, o equivalente a quase dois meses de seu trabalho. Convenhamos que, tanto para ele como para os que estão na mesma situação, este valor não é nenhum trocado. Ele pode até reaver uma pequena parte deste dinheiro em sua declaração anual de imposto de renda pessoa física, mas, mesmo assim, demanda um tempo.

Imagine, agora, de outra forma. O mesmo profissional, o mesmo salário mensal, mas com desconto bem menor. Ao invés dos mais de mil reais mensais (ou mais de 12 mil no ano), caiu para R$ 150. Cerca de menos 850 a cada mês ou mais de 10 mil no ano em relação ao exemplo acima. Dinheiro que pode ser utilizado de imediato ou poupá-lo para uma situação futura. De preferência, de uma forma prazerosa – em férias merecidas ou em uma viagem há muito esperada. Com certeza, será bem melhor do que se direcionado ao pagamento de “emendas pix”, cujo destino não é bem definido e muitas vezes desviadas, conforme é possível constatar no noticiário cotidiano brasileiro.

É o que está previsto na nova tabela enviada ao Congresso e que passa a vigorar no próximo ano, caso seja aprovada. E olhe que demorou. A atual vem desde 2015, quando o salário-mínimo era de R$ 788 mensais. Hoje é quase o dobro (R$ 1.518). A única alteração nestes 11 anos de vigência foi o valor isento, que passou de R$ 1.903,27 para R$ 2.259,21 em 2023. Ou seja, a cada ano taxando mais quem ganha menos. Em 2015, os sete mil reais do exemplo equivaliam a quase nove salários-mínimos; hoje é pouco mais da metade. Ah! Pela nova tabela, estará isento quem ganha até R$ 5 mil por mês. Com certeza, quem está nesta situação espera ansiosamente pela aprovação desta tabela. Como se diz lá pelas bandas mineiras. Caldo de galinha e um dinheirinho a mais não faz mal a ninguém.

O problema é combinar com os russos, como diria Garrincha, o craque das pernas tortas, porém certeiras em seus dribles e gols. Cobram caro pelo apoio, inclusive incluindo uns jabutis na lei a ser aprovada, ou simplesmente rejeitam a mudança. Especialmente os que veneram o deus Mercado. O governador paulista, por exemplo, é contra. Disse que a isenção “abre mão de uma base de pagantes de relevantes” (mais de 20 milhões de trabalhadores) e, em sua opinião, “tributa o capital”. Traduzindo, os cerca 0,13% dos contribuintes, que passam a pagar 10% se os seus dividendos forem superiores a R$ 50 mil. Enquanto isso, que os trabalhadores, mesmo ganhando menos de dois salários-mínimos (esta é a realidade atual) continuem irrigando a banca. Robin Hood tirava dos ricos e distribuía aos pobres. Neste brasilsão, tira-se dos pobres para satisfazer os riscos. Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, socorrei-nos.

Publicado em A Gazeta, de Cuiabá, nesta segunda-feira, 07.04.2025

Jairo Pitolé Sant’Ana é jornalista

* A opinião do articulista não reflete necessariamente a opinião do PNB Online

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