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Título de Cidadão Mato-grossense é entregue a representantes de Dom Pedro Casaldáliga

O merecido título de Cidadão Mato-grossense concedido em 1989 ao bispo Dom Pedro Casaldáliga por iniciativa do ex-deputado Hermes de Abreu (MDB), já foi entregue aos representantes da Casa de Dom Pedro, entidade de São Félix do Araguaia que cuida do legado do bispo que dedicou a vida aos direitos humanos, à causa indígena e aos trabalhadores sem terra. Hermes, que hoje vive no Rio de Janeiro, fez questão de vir retirar pessoalmente na Assembleia Legislativa o título impresso, para que chegasse aos continuadores da obra do bispo emérito.

A entrega simbólica ocorreu no dia 19 de setembro, feita pela veradora Patrícia Paiva (Republicanos) às mãos de Ludes Jorge, Edileuza e Jusmar, representantes da Casa de Dom Pedro, em um gesto marcado por respeito, carinho e reconhecimento ao imenso legado deixado por Dom Pedro à comunidade. Uma justa homenagem que reforça a importância da memória e da contribuição de Dom Pedro Casaldáliga para a história da região do Araguaia. Na ocasião, o ex-deputado Hermes de Abreu também foi convidado a visitar São Félix do Araguaia e a Casa de Dom Pedro, onde será recebido com acolhimento e gratidão. Ele vai agendar a visita para os próximos meses.

“D. Pedro foi um símbolo da verdadeira fé cristã, defensor ardoroso das povos originários (indígenas) e dos trabalhadores que desbravaram o Vale do Araguaia, e depois foram sendo expulsos das terras, que na maioria eram devolutas e ele defendia ardorosamente esses posseiros”, justificou Hermes de Abreu. “Era um defensor dos direitos humanos, em plena ditadura militar. Foi um ser humano exemplar, mesmo diante das ameaças e perseguições que sofria constantemente, chegando a ser ameaçado de morte inúmeras vezes. Estava ao lado do padre João Bosco Bunier, assassinado numa delegacia, e ele nunca se intimidou. Eu o conheci ainda nos anos 70, e ele nunca transigiu com as injustiças. Daí minha grande admiração e foi o único título de Cidadão Mato-grossense que eu propus nos meus oito de mandato. Uma forma de agradecimento e reconhecimento pela sua luta. Casaldáliga era um verdadeiro cristão, no sentido profundo do cristianismo”, disse o ex-deputado.

Como praticante da teologia da libertação, o bispo emérito de São Félix do Araguaia, dom Pedro Casaldáliga, chamado de “bispo dos povos”, buscou com entusiasmo fazer da sua vida e militância um exemplo de esperança e resistência para os povos oprimidos, especialmente os indígenas, quilombolas e trabalhadores do campo.

Casaldáliga morreu com 92 anos no dia 8 de agosto de 2020 em Batatais (SP), onde estava internado com problemas respiratórios.

Ditadura feroz

No Brasil, o bispo denunciou as atrocidades da ditadura militar, o grande latifúndio e os opressores dos povos do campo. Em toda América Latina ofereceu sua solidariedade a grupos de religiosos e de trabalhadores contra as ditaduras militares, financiadas e apoiada pelos Estados Unidos, como na Nicarágua, El Salvador e Argentina.

Casaldáliga extrapolou as ações de solidariedade com os indígenas da região de São Félix e expandiu aos povos na América Latina. O advogado, ex-deputado federal e fundador do Partido dos Trabalhadores (PT), Luiz Eduardo Greenhalgh, argumenta que Pedro foi um verdadeiro profeta, “profeta do nosso tempo, da nossa luta”.

Pedro Maria Casaldáliga i Plá, nasceu em 16 de fevereiro de 1928 na pequenina Balsareny, na Catalunha. Ele veio para o Brasil como padre, em 1968, o ano do AI-5. No segundo semestre de 1968, chegaram a São Félix, onde estabeleceram moradia, o padre Pedro Casaldáliga e o irmão Manuel Luzión, da congregação dos padres claretianos, vindos da Espanha. Eles vinham para dar assistência religiosa ao povo da região e para dar os primeiros passos em vista à criação de uma nova circunscrição eclesiástica na região, a prelazia de São Félix do Araguaia.

Em 27 de abril de 1970, dois anos após sua chegada, Pedro, foi indicado pelo papa como primeiro Administrador Apostólico da recém criada Prelazia de São Félix do Araguaia, MT. A Prelazia havia sido erigida pelo papa Paulo VI em 13 de maio de 1969, com a vasta extensão de 150 mil quilômetros quadrados. A confiança do papa em Dom Pedro era tamanha que sempre o defendeu em seu pontificado, de forma intransigente, diante da ditadura e dos esquadrões da morte e frente aos católicos da ultradireita que o perseguiram por décadas e queriam a sua expulsão do país.

Em 23/10/1971, ele foi sagrado bispo-prelado de São Félix meio sem desejar o posto, sempre em São Félix do Araguaia, na época terra do perigo, das ameaças, das tocaias. Mas Pedro Casaldáliga seguia seu lema: Nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada calar e, sobretudo, nada matar. Pedro, claramente optou pelos pobres e pela teologia dos pobres, conhecida como Teologia da Libertação. Seu lema episcopal era “humanizar a humanidade”. Nunca assumiu brasão medieval, sequer usava mitra do tempo do império romano e, a ostentação do cajado que parece muito mais símbolo de narcisismo do que instrumento de combate aos lobos. Sempre pedia que o chamassem apenas de Pedro, nada assinando com o prefixo principesco de Dom.

Fundou, com outros bispos, o Conselho Indigenista Missionário, quando não havia, aqui e no mundo, consciência sobre os direitos imemoriais dos primeiros brasileiros à sua terra, à vida e a sua cultura ancestral. Faria o mesmo com a Pastoral da Terra, para defender os lavradores que a fecundam.

Padre assassinado

No dia 11 de outubro de 1976, o padre João Bosco Penido Burnier acompanhou Dom Pedro à Delegacia de Polícia de Ribeirão Bonito, atual município de Ribeirão Cascalheira (MT), onde após alguns minutos de tensa conversa, foi alvejado com dois tiros na cabeça pelo soldado PM Ezy Ramalho Feitosa, que antes o atingiu no rosto com o revólver. Gravemente ferido, o religioso foi internado no Instituto Neurológico de Goiânia, mas não resistiu aos ferimentos.

Uma semana antes havia ocorrido o assassinato do cabo Félix Pereira de Castro, muito conhecido pelos atos de violência que praticava. Sua morte revoltou as forças policiais da região, que reagiram perseguindo e torturando os suspeitos pelo crime e seus familiares.

Neste contexto de tensão, o objetivo da visita dos religiosos à delegacia era interceder por quatro pessoas que, após terem sido presas sem mandado judicial ou flagrante delito, estavam sendo torturadas: Margarida Barbosa da Silva, Yolanda Eloisa dos Santos, Santana Rodrigues de Oliveira Santos e José Pereira de Andrade. Dom Pedro Casaldáliga contou em um livro sobre o padre que “era possível ouvir os gritos das mulheres da rua”.

Segundo Dom Pedro, as mulheres eram ameaçadas com um caititu bravo que poderia despedaçá-las.

Na delegacia, quatro policiais receberam os religiosos de forma truculenta e, até mesmo, com ameaças de morte. O padre Burnier comunicou aos soldados que informaria à hierarquia das forças de segurança sobre as arbitrariedades que estavam sendo cometidas ali. Como resposta, foi agredido e morto pelo PM.

Uma semana depois da missa de Sétimo Dia, uma multidão de posseiros, trabalhadores rurais e indígenas cercou e destruiu a delegacia de Ribeirão Bonito, libertando os quatro presos. No local foi erigida posteriormente uma igreja, batizada de Santuário dos Mártires da Caminhada, mesmo diante dos protestos de fazendeiros.

Em 2010 Estado brasileiro reconheceu, com 33 anos de atraso, que o sacerdote jesuíta assassinado em 1976 por um policial foi vítima de um crime político. Este ano, em setembro, o governo federal revisou a certidão de óbito do padre Burnier. O documento entregue à família do padre agora reconhece que a morte foi “não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro, no contexto da perseguição sistemática à população identificada como dissidente política do regime ditatorial instaurado em 1964”.

Como forma de homenagem, a Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) deu o nome de Dom Pedro Casaldáliga, que faleceu no dia 8 de agosto de 2020, ao campus da instituição, em Luciara (MT), na região do Médio Araguaia. Segundo a universidade, ele colaborou com a instituição e foi uma figura importante para a comunidade acadêmica.

A Unemat de Cáceres também concedeu o título de Doutor Honoris Causa a Pedro Casaldáliga em conjunto com o Câmpus Universitário do Médio Araguaia em Luciara, em 21 de novembro de 2017.

Lei Hermes de Abreu

Natural de Alto Garças, Hermes teve sua iniciação política na militância estudantil e depois na luta pela redemocratização do país. Depois de fazer Direito na UFMT, foi advogar em Jaciara e todo o Vale de São Lourenço. Na cidade de Rondonópolis foi secretário municipal de Administração em 1983, no período que o ex-governador de Mato Grosso Carlos Bezerra foi prefeito. Posteriormente estabeleceu-se em Cuiabá e iniciou a carreira parlamentar. Foi deputado estadual nos períodos 1987/1991 e 1991/1994. A partir de 1994, tornou-se secretário de Estado de Justiça no governo Dante de Oliveira. Na época a secretaria de Justiça englobava também a Segurança Pública, depois separada com a criação da secretaria de Segurança e a de Justiça e Defesa da Cidadania.

Apesar de ter exercido apenas dois mandatos parlamentares, Hermes de Abreu entrou para a história ao propor e aprovar a Lei sancionada em 12 de dezembro de 1991, eternizada como Lei Hermes de Abreu, primeira legislação de incentivo à cultura e às artes em Mato Grosso que deu alento à produção cultural por permitir que o Estado destine recursos públicos ao segmento. Uma outra lei de sua autoria de expressivo valor data de 1990, dando como obrigatório o ensino de história, geografia e cultura de Mato Grosso nas escolas.

A primeira Lei de Incentivo à Cultura de Mato Grosso entrou em vigor em 12 de dezembro de 1991, e tinha como principal objetivo aumentar a participação do Estado no fomento, desenvolvimento e autonomia da cultura mato-grossense. Essa lei instituiu o incentivo fiscal para empresas estabelecidas no Estado de Mato Grosso de 3% para patrocínios e 5% para investimentos em projetos culturais, percentuais estes subtraídos dos valores a serem pagos ao Tesouro do Estado a título de ICMS – Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços.

Até hoje a lei financia e viabiliza inúmeros projetos culturais e artísticos em Mato Grosso, saudada como grande conquista do segmento artístico e da sociedade organizada em defesa da arte e da cultura.

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